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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sermão em Números 11. 16-35

Introdução: Esopo era um escravo de rara inteligência que servia à casa de um conhecido chefe militar da antiga Grécia. Certo dia, em que seu patrão conversava com outro companheiro sobre os males e as virtudes do mundo, Esopo foi chamado a dar sua opinião sobre o assunto, ao que respondeu seguramente:
- Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra está à venda no mercado.
- Como? Perguntou o amo surpreso. Tens certeza do que está falando? Como podes afirmar tal coisa?
- Não só afirmo, como, se meu amo permitir, irei até lá e trarei a maior virtude da Terra.
Com a devida autorização do amo, saiu Esopo e, dali a alguns minutos voltou carregando um pequeno embrulho. Ao abrir o pacote, o velho chefe encontrou vários pedaços de língua, e, enfurecido, deu ao escravo uma chance para explicar-se.
- Meu amo, não vos enganei, retrucou Esopo. A língua é, realmente, a maior das virtudes. Com ela podemos consolar, ensinar, esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua os ensinos dos filósofos são divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras dos poetas se tornam conhecidas de todos.
- Acaso podeis negar essas verdades, meu amo?
- Boa, meu caro, retrucou o amigo do amo. Já que és desembaraçado, que tal trazer-me agora o pior vício do mundo.
- É perfeitamente possível, senhor, e com nova autorização de meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício de toda terra.
Concedida a permissão, Esopo saiu novamente e dali a minutos voltava com outro pacote semelhante ao primeiro. Ao abri-lo, os amigos encontraram novamente pedaços de língua. Desapontados, interrogaram o escravo e obtiveram dele surpreendente resposta:
- Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo modo que a língua, bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando relegada a planos inferiores se transforma no pior dos vícios. Através dela tecem-se as intrigas e as violências verbais. Através dela, as verdades mais santas, por ela mesma ensinadas, podem ser corrompidas e apresentadas como anedotas vulgares e sem sentido. Através da língua, estabelecem-se as discussões infrutíferas, os desentendimentos prolongados e as confusões populares que levam ao desequilíbrio social. Acaso podeis refutar o que digo? indagou Esopo.
Impressionados com a inteligência invulgar do serviçal, ambos os senhores calaram-se, comovidos, e o velho chefe, no mesmo instante, reconhecendo o disparate que era ter um homem tão sábio como escravo, deu-lhe a liberdade. Esopo aceitou a libertação e tornou-se, mais tarde, um contador de fábulas muito conhecido da antiguidade e cujas histórias até hoje se espalham por todo mundo.

Elucidação: Vimos na elucidação anterior que é impossível discutirmos Números sem falarmos dos outros livros, especialmente Êxodo e Leviticos. Números, como outras partes da Escritura, não procura pintar um retrato detalhado do caráter de Deus. Nas futuras elucidações procuraremos perceber os símbolos que retrataram a atuação de Deus no meio do povo. No entanto, em suas leis e narrativas certas características divinas emergem bem claramente. Foi fundamental para a experiência de Israel a presença real e visível de Deus entre eles. Como primeiro símbolo, falaremos sobre a nuvem. A nuvem de fogo que cobria o tabernáculo mostrava que aquele não era um palácio real vazio, mas que o Senhor seu Deus estava com ele, e no meio dele se ouvem aclamações ao seu Rei. Sempre que a nuvem se movia, o povo acompanhava. Quando a nuvem parava de se mover, o povo acampava. Tão impressionante era esse fenômeno, que não somente o vidente mesopotâmio Balaão o reconheceu, mas também os egípcios de acordo com Nm. 14.14. A nuvem ambulante e a arca eram as imagens de Deus andando com o Seu povo, para protegê-lo e dar-lhe vitória sobre seus inimigos. Na ausência dEle, a derrota era inevitável. O que era ainda mais terrível era que a nuvem aparecia em ocasiões de crise, quando o povo protestou contra a liderança divinamente nomeada, ou contra a viagem planejada a Canaã. O aparecimento súbito da nuvem prenunciava algum castigo terrível para os rebeldes que estavam no meio do povo de Deus. Desta forma, a nuvem apontava tanto para a proteção de Deus quanto para seu juízo. Nesta noite, vamos meditar sobre o seguinte tema

Tema: A Resposta de Deus à Oração de Moisés

1 Divisão: O Senhor anuncia a Moisés o que vai fazer (versos 16-23)
A oração de Moisés consistia basicamente de duas grandes queixas: A questão do peso da responsabilidade e a questão da carne que eles queriam Estas duas grandes queixas são os motivos que levam Moisés a pedir a morte a Deus. Estas queixas perturbaram muito a Moisés.
O Senhor com sua grande graça e misericórdia responde a Moisés. Interessante, percebemos que o Senhor não matou a Moisés. Entretanto os motivos que levaram a Moisés a pedir a morte foram solucionados.
O verso 16 começa dizendo que Deus dá a 1ª instrução para atender uma das queixas que Moisés tinha feito: a questão da demasiada responsabilidade. O Senhor diz: Ajunta-me setenta homens dos anciãos de Israel, que sabes serem anciãos e superintendentes do povo; e os trarás perante a tenda da congregação, para que assistam ali contigo. 17 Então, descerei e ali falarei contigo; tirarei do Espírito que está sobre ti e o porei sobre eles; e contigo levarão a carga do povo, para que não a leves tu somente.Nm. 11- 16-17.
O verso 17 nos informa que Deus desceu e falou ( yTiär>B;dIw> ) o tronco deste verbo é um piel. A idéia do piel é de ser um tronco intenso ou causativo. O Senhor falou de modo severo com Moisés. O Senhor diz que vai yTiªl.c;a'w> ( tirar, ) do Espírito que está em ti.
Qual é a idéia aqui?
Quem dá capacidade ao homem é Deus. O Senhor repartiria com outros (70 anciãos) e juntamente com Moisés levariam a carga.
No verso 18 Deus dá a segunda instrução que corresponde a outra queixa que Moisés tinha feito. A questão da carne. O verso começa com o Senhor dando a seguinte ordem:
WvåD>q;t.hi ( Santificai-vos) a idéia é de separai-vos. Pra que? Porque amanhã comereis carne. Deus iria responder a importunação do povo.
Observem os versos 19-20!
O Senhor diz: Não comereis um dia apenas, ou dois, ou cinco ou dez ou vinte.
Mas, pelo contrário, um mês inteiro, até que saia pelas vossas narinas e vos provoque náuseas... Por que o Senhor fez isto? O texto diz:
‘hw"hy>-ta, ~T,Ûs.a;m.-yKi( (visto que rejeitaste ao Senhor)
A rejeição do Senhor foi manifesta e concretizada através das reclamações: Para que, pois, saímos do Egito?
Mesmo com a resposta do Senhor a Moisés, parece que ele não tranqüilizou o coração e eis o que diz: Seiscentos mil homens de pé é este povo no meio do qual estou; e, tu tens dito: Dar-lhes-ei carne, e comerão um mês inteiro. Matar-se-ão rebanhos e gados que lhes bastem? ou ajuntar-se-ão todos os peixes do mar que lhes bastem?" (Nm 11,21-22).
O texto nos informa a resposta do Senhor a esta dúvida de Moisés
"Pelo que replicou Iahweh a Moisés: Porventura ter-se-ia encurtado a mão de Iahweh? Já verás se a minha palavra se cumpre ou não" (Nm 11,23)
Como o próprio verso 23 já demonstra: O Senhor respondeu as queixas que Moisés tinha feito contra o povo e também mostrou a Moisés que seu poder continuava o mesmo.
O Senhor agora executa o que tinha dito a Moisés e é isto o que passaremos a considerar.

2 Divisão: O Senhor alivia a carga de Moisés (versos 24-30)
O Senhor soluciona a primeira queixa que Moisés tinha feito na sua prece (versos 12;14).
O verso 24 diz que Moisés ‘rBed:y>w: (falou) o tronco do verbo está no piel. Não foi uma conversa muito delicada. A idéia é que Moisés falou severamente com o povo aquilo que o Senhor tinha dito. E como primeira medida ajuntou 70 homens velhos do povo e os colocou ao redor da tenda.
O verso 25 diz: Iahweh desceu na nuvem. O DIT traz a seguinte informação: O substantivo (nuvem) ocorre cerca de 80 vezes no AT; em 75 por cento dessas ocasiões, a palavra refere-se à coluna de “nuvens” que dirigia os israelitas pelo deserto e representava a presença do Senhor sobre o tabernáculo.
O Senhor ‘x:Wr’h'-!mi lc,aY"©w: ( e tomou do Espírito) a idéia é repartir o comando. Entretanto, Moisés ainda era quem comandava. Os setentas iriam auxiliar Moisés. A nomeação dos setenta anciãos tinha como fim: Ajudar na condução do povo. A hierarquia não fora modificada. Eles receberam a investidura do Espírito que estava em Moisés, sem que lhe ficasse reduzido, o que caracteriza a dependência deles no exercício das funções auxiliares.
Tanto o verso 25 quanto o 26 diz que quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram. O que significava isto?
Esse ato de profetizar tem um sentido bem diverso do que se conhece normalmente. Tal como em outros locais (1Sm 10,10 / 19,24), onde se fala em um estado de "delírio", se entende aqui como o entusiasmo e empolgação que manifestaram possuir naquele momento apenas. O espírito profético que pousou sobre eles é o de Moisés, não outro. Dessa data em diante os anciãos passaram a assessorar Moisés na chefia, motivo pelo qual o narrador registra, com referência ao ato de "profetizar", que "nunca mais o fizeram".
Não é a primeira vez que Moisés tem ajudadores. Em Êx. 18 13-27 Jetro vendo Moisés julgar os problemas do povo sozinho aconselha Moisés que tivesse quem o ajudasse. Aqui reside o principio de que o povo de Deus não deve ser guiado por um só homem. O povo de Deus é dirigido por um conselho, nunca por um só homem.
No verso 26 nos é dito que dois homens que estavam inscritos, mas por algum motivo não estavam ao redor da tenda, ou seja, não estavam no local determinado por Deus, entretanto, também receberam o poder de Deus e profetizam. Neste ínterim, acontece que um moço vem e diz o que estava acontecendo com àqueles dois que não estavam no local determinado. Josué pede a Moisés para repreendê-lo. Moisés diz: “Tens tu ciúme por mim”? O particípio piel aNEïq;m.h;( ( traz a idéia de uma emoção muito forte em que o sujeito deseja alguma qualidade ou a posse do objeto) Josué por servir a tanto tempo e por ser-lhe fiel tem este sentimento. Ao invés de Moisés lisonjeá-lo, repreende-o.
Aqui temos algumas coisas que precisam ser consideradas:
a- Moisés não tem síndrome de super-homem, ele reclamou por ajuda e quando o Senhor a deu, não ficou enciumado.
b- Josué, que seria seu sucessor aprendeu que o Senhor dá capacitação a quem Ele quer dá.
c- Moisés demonstra humildade em reconhecer que o que “tem” vem do Senhor.
d- Deus não estava impedido de derramar Seu Espírito sobre estes dois homens, pelo fato deles não estarem ao redor da tenda. O Senhor é Soberano.
Mas, existia a outra queixa de Moisés. Nos versos seguintes veremos a resposta de Deus.

3 Divisão: O Senhor providencia carne para o povo (versos 31-35)
O verso 31 diz que levantou-se um vento enviado por Iahweh vindo do mar e trouxe codornizes e as vJo’YIw: è(arremessava, lançar fora, cair) o verbo está no imperfeito qal. A idéia é que elas caiam no chão. Poderíamos pensar numa forma de pouso forçado.
Havia tantas codornizes que o texto sagrado diz que: Delas havia numa extensão de um dia de marcha (cerca de 30 km) de um lado e do outro do acampamento, e numa espessura de dois côvados acima do solo. (cerca de noventa centímetros)
Segundo Gordon. J. Wenhan

O verbo hebraico que foi traduzido por arremessar sugere que havia pilhas de aves até noventa centímetros de altura (dois côvados). Também é difícil imaginar um homem caçando dez hômeres de aves. (possivelmente 2.200 litros) porém seria de fácil execução juntar tantas assim, se elas estivessem enchendo o chão. Depois de capturadas, as codornizes eram estendidas para secar e serem preservadas.

As Escrituras nos dizem que o povo levantou-se todo aquele dia e aquela noite e também no dia seguinte. Foi de fato, muita carne que eles recolheram. O que recolheu menos não recolheu menos de mil quilos.
O verso 33 numa tradução literal diz o seguinte: A carne e sua pele entre seus dentes ainda não tinham sido cortadas e as narinas de Iahweh (ira de Iahweh) se inflamou contra o povo e Iahweh feriu o povo com uma praga muito grande.
É necessário considerarmos algumas coisas neste verso:
1- A expressão narinas de Iahweh, o DIT diz que esta expressão traz a seguinte lembrança de que por meio da alteração da respiração as emoções podem ser exprimidas. Talvez tenha sido observado que o nariz fica dilatado quando se está irado. A ira se expressa na manifestação das narinas dando ênfase ao aspecto emocional da ira e do furor. A ira de Deus está particularmente relacionada com o pecado do seu povo, o que lhe é doloroso e o desagrada profundamente. O pecado ofende e fere o amor de Deus. A resposta emocional a isto é a ira divina.
2- O verbo %Y:Üw: ( feriu) o tronco é um hifil. Iahweh feriu o povo com uma grande epidemia, praga ou matança. A idéia do nosso verso é a de uma praga que ocorreu no deserto, enquanto o povo, com glutonaria comia codornizes. Essa praga pode ter sido um sério problema estomacal.
O verso 34 diz que este lugar se chamou Kibrote-Hataavár o nome significa “Túmulo dos desejos”. Outro memorial onde a ira de Deus fora derramada sobre o povo.
De tudo isto, o que é mais espetacular é a presença de Iahweh no dia a dia do povo. Infelizmente o povo não obedecia ao Senhor. Van Gruningem diz o seguinte:

A comida era uma fonte de queixa. O povo tinha saudades dos vegetais frescos, peixes e frutas do Egito. Eles estavam cansados do maná que caía do céu. Então quando Iahweh o supriu com abundância de codornizes, eles devoravam com avidez. Esta queixa sobre a comida não aconteceu apenas uma vez; depois de trinta e oito anos de peregrinação, o povo ainda estava impaciente e falavam contra Deus, dizendo que sentiam falta da água fresca e da boa comida e que desprezavam a “comida miserável”, o maná que cai do céu.

Eis o povo de Israel, eis os nossos irmãos, eis os costumes que infelizmente refletimos todas as vezes que demonstramos arrogância e ingratidão para com Iahweh. Paulo adverte a igreja de Coríntios para que se lembre dos juízos que sobrevieram a Israel no deserto, para que destino semelhante não lhes sobreviesse. 1 coríntios 10. 1-11.

Aplicação:
1- O Senhor escutou a oração de Moisés, O Senhor está atento ao que se passa entre seus santos, por isso, devemos ter cuidado com o nosso modo de agir e de pensar. Pois Deus que sonda tudo pode visitar seu povo em ira.
2- O Senhor deu a carne tão desejada por eles, enquanto eles se esbaldavam na glutonaria, com as carnes e peles ainda nos dentes, Deus feriu com uma grande praga. Tomemos cuidado com nossas queixas ingratas, O Senhor pode perfeitamente nos atender, visando com isto, nos punir.
3- O lugar onde eles foram enterrados foi chamado Túmulo dos desejos. Nome bem propício para o fim que tiveram. Devemos ter cuidado para não irmos também ao Túmulo dos nossos desejos. O lugar onde Yahweh visita em ira o lugar onde ninguém pode escapa de sua mão.
4- Deus é juiz-Guerreiro. O Mesmo Deus que feriu os egípcios com praga, também disse que se o povo da aliança não fosse fiel, feriria o povo, visitando-o em ira santa.
5- Yahweh é o mesmo. Somos tão povo Dele quanto nossos irmãos do Antigo Testamento eram. Depois de dar o castigo de Yahweh como exemplo, Paulo em I Coríntios 10. 11-12 diz o seguinte: Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.



Conclusão:
Por que Deus irou-se contra o povo? Nos versos do cap. 11 temos reclamações. A narrativa nos mostra como eles usavam sua língua. É engraçado, quase não os vemos usando em agradecimento e louvor a Deus. Mas, em reclamações, palavras duras... Isto é o que não falta a eles. A ira que o Senhor teve contra eles não foi por causa de suas línguas? É obvio que sim! Vejam como eles eram influenciados: O populacho que estava no meio do povo da aliança teve um desejo desenfreado por carne. O povo da aliança também se pôs a chorar e reclamar. Isto leva Moisés à raia do desespero, tamanha era a insistência do povo rebelde. Percebam que a oração que Moisés fizera foi motivada por tantas e tantas reclamações. O que Deus fez? Respondeu a oração de Moisés. Você já pensou nisto? Em quantas reclamações você tem feito? Como você tem utilizado sua língua?
Será que ela tem sido instrumento de virtude ou de desgraça?
Lembre-se: Deus pode atender perfeitamente a sua reclamação. Mas, tenha medo. Talvez Ele queira te castigar.
Sendo assim, é melhor controlar a língua. Para que preces contra vocês não sejam dirigidas ao alto.
Que o Senhor tenha misericórdia de sua vinha!
A Ele toda glória!
Amém!

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