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sexta-feira, 7 de maio de 2010

A COMUNHÃO TRINITÁRIA E SEU RELACIONAMENTO COM A IGREJA E AS DEMAIS CRIATURAS

Neste artigo iremos abordar questões de relacionamentos. A Santíssima Trindade se relaciona consigo mesmo e com as criaturas que criou.
Começaremos descrevendo a Da comunhão da Santíssima Trindade, e depois a comunhão com as criaturas e com o meio em que elas vivem. A comunhão Trinitária servirá de modelo para o contexto de sociedade onde as pessoas vivem.

A Dança da Trindade em Pericorese

É necessário definirmos o que é Pericorese. O doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Luiz Carlos Susin, diz que:
O teólogo grego João Damasceno, em seu escrito sobre a Verdadeira Fé, teria tomado a palavra pericóresis, que se pode atualizar por pericorese, de uma dança própria das crianças em momento de brincadeiras. A palavra grega se compõe de três radicais: Peri quer dizer “ao redor”, como periferia ou perímetro. A palavra: coram, de onde provém o meio de pericorese, significa “estar de frente” ou “em face de” como o coro de cantores que fica de frente para a platéia. E, finalmente, a ultima parte- esis- significa “decorrência. Algo que jorra de uma fonte.

Assim o termo pericorese embora pareça uma palavra sem sentido para nós, tem dentro da Teologia Trinitária um significado muito grande. Ela expressa a relação mútua das pessoas da Santíssima Trindade, sua relação. A idéia de pericorese, como já foi dito, vem de uma brincadeira de roda, e nesta brincadeira, uma criança ficava no meio e as outras dançavam ao seu redor, só que aquela que estava no meio, não estava excluída da brincadeira, ela fazia parte dela, então por escolha ou verso recitado, a que estava no centro saía, e outra que estava na roda em redor dela ia para seu lugar e aquela que estava no centro ia para a roda.
Heber diz o seguinte:
Para ilustrar essa “dança”, O Pai Criador, o Filho-Verbo e o Espírito Sustentador estão envolvidos igualmente na obra da criação; todas as três pessoas, que compartilham eternamente a essência da divindade, conquanto distintas e possuindo alguns atributos distintivos ou mais enfáticos, elas participam igualmente (não quantitativamente) em todas as opera ad extra, exceto a obra da encarnação, que pertence unicamente a Segunda Pessoa da Trindade

Pericorese trata de comunhão entre as Pessoas da Santíssima Trindade, de um movimento de amor e graça para com toda a criação. Às vezes uma Pessoa da Santíssima Trindade, pode parecer estar em mais evidência do que as Outras, mas isto não anula o fato de que cada obra tem a participação em cada ato opera ad extra de cada Pessoa da Santíssima Trindade. Boff diz que:
Há uma circulação total de vida e uma co-igualdade perfeita entre as Pessoas, sem qualquer anterioridade, ou superioridade de uma à outra. Tudo nelas é comum e é comunicado entre si, menos aquilo que é impossível de comunicar: O que as distingue uma das outras. O Pai está todo no Filho e no Espírito Santo; O Filho está todo no Pai e no Espírito Santo; e o Espírito Santo está todo no Pai e no Filho.

A pericorese nos faz entender isto: Que quando Deus age, não é Uma ou Duas Pessoas que estão agindo, mas todas as Três Subsistências da Bendita Mônada . Susin diz o seguinte:
Na história do mundo com Deus, há uma pericorese divina em que as três pessoas divinas se movem de tal forma que há sempre uma no centro e duas ao seu redor: Na criação, o Pai Criador está no centro, mas em torno dele estão o Espírito como energia da criação e o Filho como forma dela. Na encarnação é o Filho que está no centro, e ao seu redor estão o Pai, que o envia e o chama, e o Espírito, e o Espírito, que o assiste e lhe da inspiração. No tempo da Igreja e consumação e santificação da criação é a vez de o Espírito estar no centro, enviado pelo Filho, que está junto do Pai, para que configure este mundo à imagem do Filho e assim seja entregue ao Pai

A pericorese é o oposto do narcisismo , pois ela é um “voltar ao outro”, tudo que é feito, não é feito em solidão, mas em sociedade. É como as crianças da dança de roda, elas não estão separadas, estão juntas. A que está no meio, não foi excluída, faz parte da dança: Está no meio. As demais não estão excluídas por não estarem no centro, faz parte da dança: Estão em redor. Sendo assim, “cada uma tem prazer na outra, encontra sua realização em estar voltada para a outra, é feliz na outra” Esta percepção é que norteará e será o ponto de partida em compreender em que a Pericorese Trinitária pode influenciar a relação entre os homens em habitat.
Boff em seu livro fala de três explicações do mistério Trinitário.
1- Um caminho que parte do Pai.
2- Um caminho que parte da Natureza Divina e Espiritual.
3- Um caminho que parte da Trindade
Isto é importante, pois a fonte é fator determinante, a posição que parte do Pai, é a posição adotada pela teologia ortodoxa grega, segundo a qual: o Pai é a fonte e origem de toda a divindade. O Padre Ortodoxo Theodoro diz o seguinte:
No que diz respeito às Pessoas, a doutrina tradicional latina ou romana afirma o prevalecer das relações em Deus: Pai é um puro conceito de relação. Somente em sua contraposição às demais Pessoas (Filho e Espírito Santo) ele é Pai, mas em seu próprio ser, Ele é sim simplesmente Deus. Já a teologia grega atribui à origem da subsistência “hipostática” a “Hipóstase ” do Pai e não a sua essência comum

Kelly citando Gregório de Nazianzo, um dos pais capadócios diz: “Os três possuem uma só natureza, a saber, Deus, sendo que a base da unidade é o Pai, de quem e para quem se enumeram as pessoas subseqüentes” O problema com este ponto de vista é o perigo de introduzirmos o subordinacionismo, a unidade como diz Boff “reside na substância do Pai comunicada. Por isso as três Pessoas divinas são consubstanciais, pois participam de forma absoluta da mesma substância do Pai” Tudo o que o Filho tem e o Espírito tem são derivado do Pai. “Por isso não há Três Eternos, mas Um só eterno, Um só santo, Um só Senhor” . Temos aqui, o subordinacionismo, pois Filho e Espírito, são dependentes do Pai, os defensores desta posição dizem que há pericorese por causa do Pai.
O ponto que iremos defender será o segundo, que parte da Natureza, que é o ponto da teologia latina. Mas para melhor definição da doutrina começaremos pelo terceiro. Pois bem, o terceiro ponto de partida é o que Boff vai orientar-se por ele em seu livro Ele expõe sua preferência argumentando o seguinte:
Partimos decididamente da Trindade, isto é, do Pai, do Filho e do Espírito Santo, assim como no-los revelam as Escrituras e como aparecem na caminhada histórica de Jesus Cristo. Eles coexistem simultaneamente e originalmente são os três co-eternos (...). Pai, Filho e Espírito Santo não emergem como separados ou justapostos, mas sempre mutuamente implicados e relacionados. Onde reside a unidade dos três? Reside na comunhão entre os divinos Três. Comunhão significa comum-união (communio). Somente entre três Pessoas pode haver união, porque elas intrinsecamente se abrem umas às outras, existem com as outras e são umas pelas outras. Pai, Filho e Espírito Santo vivem em comunidade por causa da comunhão.

Se no primeiro ponto de vista, existe o perigo do subordinacionismo, aqui reside o do triteísmo, Boff diz que:
O risco do triteísmo, presente nesta opção, é evitado pela pericorese e pela comunhão eterna que originalmente existe entre as Pessoas. Não devemos pensar que primeiramente existem os três, cada um por si, separados dos outros e, depois, entram em comunhão e em relações pericoréticas. Esta representação é equivocada e colocaria a união como resultado posterior e como fruto da comunhão

Boff não vê subsistências dentro da mesma Mônada; fazendo uma amostra exegética do texto de João 10.30, diz:
O fundamento principal de nossa opção se encontra em João 10.30”Eu e o Pai somos uma coisa só (hen)”. Note-se que Jesus não diz: “Eu e o Pai somos numericamente um” (heis), mas “estamos juntos” (“hen em grego, como “aparece depois em João 10.38:” O Pai está em mim, e eu no Pai”). A união do Pai e do filho não apaga a diferença e a individualidade de cada um. Antes a união supõe a diferença. Pelo amor e pela recíproca comunhão eles são uma coisa só, o único Deus-amor

Este posicionamento de Boff vai de encontro com a teologia ortodoxa latina, veja o que Agostinho diz:
Dizemos assim, pois, que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo igualmente é Deus, o que ninguém nega falando na ordem substancial. Mas não dizemos que há três deuses, mas um só Deus na sublime Trindade, Do mesmo modo: O Pai é grande, o filho é grande e o Espírito Santo é grande, mas não há três grandes, mas um só grande.

Por mais que se diga que a Unidade reside na comunhão, permanece o fato de serem três diferentes, que estão unidos por amor.
O nosso ponto de partida é o que parte da Natureza. Heber diz o seguinte:
A identidade numérica tem a ver com o termo homoousios, no qual o Pai e o filho possuem a mesma ousia, ou substância, e aponta par a divindade do redentor: O Pai e o Filho são um Ser e possuem a mesma essência, e ambos compartilham com o Espírito Santo de uma existência comum

As subsistências existem dentro da mesma e Bendita Mônada, estas subsistências são conhecidas e diferenciadas pelos papéis que cada uma exerce. A primeira subsistência é chamada de Pai, e é o fato de ser Pai que torna Ele não Filho, não Espírito Santo. O mesmo raciocínio se dá com O Filho que por ser Filho, não pode ser Pai nem Espírito e com O Espírito Santo que por proceder do Pai e do Filho, não pode ser nem um nem outro. Boff expondo este ponto de vista diz:
O risco permanente desta concepção que parte da unidade da essência divina reside no modalismo, quer dizer, as Pessoas aparecem como modos do mesmo Ser, não havendo realmente um três em Deus; permaneceríamos, então, sempre no nível do monoteísmo. Para fazer frente a este risco e sustenta uma compreensão ortodoxa, a teologia (especialmente a latina, mas não exclusivamente) irá enfatizar que os modos de possessão e concretização da mesma essência são modos reais e distintos; não se trata, pois de modos de expressão ou etapas da revelação para nós, portanto, uma questão verbal; o modo de possuir a essência por parte do Pai é realmente distintos daquela do Filho e ambos, por sua vez, também distintos do Espírito Santo. A diferença real nos modos de possessão e de concretização da mesma e única essência se baseia na diferente procedência de uma Pessoa da outra. Assim dizemos: O Pai (a primeira Pessoa) possui a essência como essência não gerada nem comunicada, princípio sem princípio; o filho ( a segunda Pessoa) recebe a essência por geração do Pai; o Espírito Santo ( a terceira Pessoa) recebe a essência por espiração do Pai e do Filho conjuntamente

É muito curioso Boff expor tão bem o ponto que parte da natureza, e preferir ir por outra via, que leva a um triteísmo. Cada Pessoa na Santíssima Trindade é reconhecida e distinguida por uma distinção formal, isto evita fundir a Trindade na unidade, pois acontecendo isto, cairíamos no modalismo, onde vê uma única essência com modos de apresentação. As distinções dentro da Mônada são reais, são subsistências de fato, diferenciadas pelos papéis, mas da mesma substância. Como disse o Concílio de Toledo XI (ano 675) onde conclui que “as Pessoas Divinas não repartem entre si a divindade, Cada uma delas é inteiramente Deus” È obvio que quando o Concílio fala que cada uma inteiramente é Deus, se refere a substância que é consubstancial nas Três Hipóstases. Calvino diz: “Agora, quanto às Três Subsistências, afirmo que cada uma, relacionada que é às outras, se distingue por uma propriedade específica.” Boff defendendo o seu ponto de partida apresentou uma mostra exegética do texto de João 10.30, como vimos na sua citação, comentando este texto a Chave Lingüística diz: “ A identidade não é asseverada, mas a unidade essencial o é.” De fato em João 10.38 que foi o texto paralelo que Boff chamou para dar embasamento à sua premissa, segundo o Léxico diz o seguinte: “Traz o sentido de relacionamento, envolvendo especialmente Jesus, ou Deus, ou ambos” A grande questão é: O texto de João 10.30 ensina um pressuposto triteísta? Se isto fosse o caso, será que os inimigos da fé durante a história da Igreja, não teria usado este argumento de forma conclusiva? Dizendo que, a Unidade da essência e pluralidade de Pessoas nesta única essência é mentirosa? Calvino citando Gregório de Nazianzo diz o seguinte: “Não posso pensar em um e único, sem que me veja imediatamente envolvido pelo fulgor dos três; nem posso distinguir os três, sem que me veja imediatamente voltado para um e único.” Heber diz “ O maravilhoso mistério que existe no ser divino é que a sua unidade não exclui a sua distinção ou diversidade! A sua natureza permite que Deus exista tripessoalmente, sem que isso afete a sua unidade”
O Símbolo Atanasiano diz o seguinte:
A fé católica é esta: que adoremos o único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, não confundindo as Pessoas, nem separando a substância, pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo, mas uma só é a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo; igual à glória, co-eterna a majestade.

Firmado na ortodoxia latina, que compreendemos a pericorese. Partindo da natureza que é comum aos Três, e por terem a mesma natureza com subsistências diferentes, é que os Três se inter-relacionam em amor, e demonstram este amor pela criatura. Baillie citando São Basílio disse:
O Pai, o Filho e o Espírito Santo igualmente santificam, vivificam, iluminam, confortam e efetuam tudo na mesma maneira. Assim, do mesmo modo, todas as outras operações são igualmente efetuadas nos santos, pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo

Boff expondo o que é Hipóstase, subsistência, pessoa, na concepção ortodoxa diz o seguinte:
Entretanto, a comunhão por mais completa e eterna, sempre deixa um resíduo: O fato de ser um que tudo entrega ao outro. O Pai tudo entrega ao Filho, menos o fato de ser Pai; o Filho tudo entrega ao Pai e ao espírito Santo menos o fato de ser Filho gerado do Pai; o espírito Santo tudo entrega ao Pai e ao filho menos o fato de ser espirado pelo Pai e pelo Filho. Esta incomunicabilidade constitui, para os teólogos medievais, a essência da pessoa

Com estas pressuposições expostas, poderíamos perguntar: Qual a razão de Boff, ir por outra via? Porque não entender pericorese na via latina? O que diferencia as pessoas que estão dentro da mesma Mônada, são justamente as funções diferenciadas. Por isso, podemos falar em Hipóstases dentro da mesma Ousia. Cremos que Boff se equivocou, pois a revelação mesmo falando menção de Três, não faz como se fosse Três independentes, na revelação o que perceptível a nós, é o papel de cada Um, mas isto não quer dizer e nem podemos pensar que Eles estariam independentes uns dos outros. Jesus respondendo certa vez a Felipe disse: (...) Felipe há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras. (João 14. 9-10). No original o verbo permanece (me,nwn) é um particípio presente ativo nominativo masculino singular, o particípio de nota uma ação simultânea com o verbo principal, no caso aqui, o verbo principal do verso é “dizer”. Este particípio está no presente, dando á ideia de continuidade, a voz do verbo é ativo. O Pai é o sujeito da permanência no Filho e o verbo está se referindo a uma Subsistência especifica, eis motivo de esta no singular.

Cristo, Ato Pericorético maior da Santíssima Trindade

Quem era Cristo?
A Pessoa Teantrópica. A fé cristã responderá. Por que Deus Homem? Porque era necessário Deus se encarnar, morrer pelos pecados de seu povo, para que seu povo pudesse ser salvo. Isto é a confissão de fé da cristandade durante os séculos. A fé cristã canta na sua vida litúrgica que o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Vimos a sua glória como João diz no seu evangelho. Em certa ocasião, Felipe pediu para ver o Pai e Jesus lhe respondeu: Felipe há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai, e isso nos basta (João 14.9). Na Liturgia da Igreja Católica existe uma fala do leiturgo na oração Eucarística V que no meu modo de ver sintetiza a encarnação e o amor de Deus pelo seu povo “Senhor vós que sempre quiseste ficar bem perto de nós, vivendo conosco no Cristo, falando conosco por Ele, mandando Vosso Espírito Santo de amor (...). ” A encarnação se deu para executar seu plano de amor. Deus quis habitar entre nós, manifestou-se ao mundo na Pessoa Teantrópica do Senhor Jesus, nascido de mulher, sem pecado original, Deus-Homem que se encarnou por nos amar.
A Santíssima Trindade no decreto eterno feito antes da fundação do mundo determinou que um povo fosse salvo dentre a raça humana decaída. O Texto Sagrado mostra o papel que cada Subsistência desempenharia, neste conselho ficou determinado também que Uma das Subsistências se encarnaria e viria a este mundo. Como diz o texto de Hebreus 2. 14: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por usa morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo.”
Comentando este verso, Kistemaker diz o seguinte:
Agora o autor indica que a necessidade de libertar seu povo de seus inimigos, da morte e de Satanás, significa que Jesus tinha de se tornar um homem. Ele tinha de ter um corpo de carne e sangue e tinha de ser totalmente humano para libertar seu povo. Libertar seus seguidores da maldição do pecado e das guerras do maligno exigia nada menos do que tomar o lugar daqueles que Deus tinha dado a ele, mas que permaneciam condenados por causa de seus pecados

As perguntas 16 e 17 do Catecismo de Heidelberg dizem:
P. 16 Por que o mediador deve ser homem verdadeiro e justo?
R. deve ser verdadeiro homem porque a justiça de Deus exige que o homem pague o pecado do homem. Deve ser homem justo porque alguém que tem seus próprios pecados não pode pagar por outros
P. 17. Por que o mediador deve ser, ao mesmo tempo, verdadeiro Deus?
R. Porque, somente sendo verdadeiro Deus, ele pode suportar, como homem, o peso da ira de Deus, conquistar e restituir para nós a justiça e a vida

Mesmo Cristo sendo carne, Ele não foi contaminado pelo pecado original. Comentando isto, Agostinho diz:
Contudo, talvez não sem motivo, se dê o fato de se encontrarem nas Escrituras referências a pessoas irrepreensíveis, e não se encontrar alguém do qual se diga que não tem pecado, a não ser um Único, do qual está escrito claramente: Aquele que não conhecera o pecado (2Cor 5,21). E em outra parte, ao falar dos sacerdotes, diz: Ele mesmo foi aprovado em tudo como nós, com exceção do pecado (Hb 4,15), ou seja, na carne, semelhante à carne de pecado, embora não fosse carne de pecado. Não teria esta semelhança, se todo a restante não fosse carne de pecado

A doutrina da Encarnação do Verbo é um dos pilares de cristianismo, sem encarnação não há salvação, nem expiação , nem propiciação . Em Cristo Deus estava reconciliando consigo o mundo; entenda-se “mundo”: eleitos e criação. O texto de Efésios 1.10 diz: “... desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”. Então temos o propósito deste ato pericoretico de Deus, e quando usamos aqui o termo “Deus”, entende-se a Trindade.
Para entendermos a causa deste ato pericoretico de Deus, precisamos entender o decreto da eleição. O decreto consiste em Deus eleger um povo para ser seu. Sabemos que como descendentes de Adão, este povo tem o que se chama em teologia: pecado Original. Desta forma, para que o decreto da eleição se realizasse, a Subsistência designada tinha que se tornar como um de nós. O evangelista João, falando sobre isto no cap 1 verso 14 diz: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai” Neste texto João fala: Kai. o` lo,goj sa.rx evge,neto kai. evskh,nwsen evn h`mi/n “ e A Palavra carne veio a ser e tabernaculou entre nós” Esta Palavra ou Verbo veio a ser... O verbo evge,neto está no Indicativo Aoristo voz média. Ou seja, a encarnação do verbo foi uma única vez, e o fato de estar na voz média, segundo Lasor, indica que “Usualmente o sujeito executa a ação em benefício de si mesmo, ou sofre a ação, ou, de alguma maneira está envolvido na ação de modo mais amplo do que ser apenas o sujeito.” Então o Verbo sofre a ação de ser gerado mais de certa forma participa também desta ação, podemos dizer isto por casa da voz depoente média. Barth faz o seguinte comentário sobre isso:
Mas é Deus que é o Sujeito, o Autor neste acontecimento. Não o homem, não Deus e homem, mas apenas Deus. O verbo tornou-se carne. O torna-se e o fazer-se homem, por parte de Deus, é e permanece como Seu livre arbítrio. A encarnação não significa nenhuma ascensão de homem para Deus, mas um pendor de Deus para o homem

O verbo veio a ser carne, a palavra para carne é: sa.rx “a ideia é do homem integral”, podemos dizer isto, pelo seguinte motivo: quando João escreveu este evangelho, além de guardar os registros a respeito do Salvador, também tinha um caráter apologético, o motivo era a questão docética, que negava que o Senhor tinha carne, sendo só aparência. Daí vem o nome docetismo, do grego dokew “parecer.” O verbo que veio a ser carne, Ele (evskh,nwsen) tabernaculou entre nós. Este é o significado do verbo que está no indicativo aoristo ativo; isto quer dizer que Ele morou de forma real entre nós. Houve um tempo na História que Deus morou entre nós. A idéia de evskh,nwsen é de viver numa tenda temporariamente. O prenúncio desta idéia, já era feita no Antigo Testamento, quando a tenda (skhnh) andava de um lado para outro, no meio do povo. Deus desde o Antigo Testamento já se deslocava com seu povo, e estava no meio do seu povo; este deslocar de Deus mostrar o quanto Ele ama seu povo e quanto seu relacionamento com seu povo é íntimo, Ele está “em” “com” e é “pelo” seu povo.
A missão de Jesus era de caráter duplo: Cumprir a Lei e Morrer pelos pecados de Seu povo. Para poder salvar seu povo, teria que ganhar a justiça decorrente da lei e sofrer a penalidade decorrente da quebra do pacto da criação, estipulado ente Deus e Adão. Na eternidade outro pacto tinha sido firmado: A aliança da redenção. “Mesmo dizendo que a concepção de uma aliança da redenção feita entre o Pai e o Filho na eternidade tem sabor de artificialidade” , Robertson diz:
Desde a Reforma tem-se feito distinção entre o pacto de aliança pré-criação entre as pessoas da Trindade e aliança histórica ente deus e os homens. A aliança pré-criação entre Pai e o filho tem sido designada de várias maneiras, como “aliança da redenção”, “aliança eterna”, “conselho de paz” ou “conselho de redenção”. Esta “aliança” particular não encontra exposição especifica nos credos clássicos dos reformadores dos séculos dezesseis e dezessete. Mas tem sido largamente reconhecida entre os teólogos da aliança desde aquela época. As intenções de Deus de redimir; desde a eternidade, um povo para si mesmo, deve certamente ser afirmada. Antes da fundação do mundo, Deus estabeleceu com seu povo uma aliança de amor.

As cláusulas da aliança eram: Obediência a lei e morte vicária e substitutiva, Pela obediência à lei, ganharíamos a justiça decorrente dela, e pela morte vicária a ira de Deus seria satisfeita, sendo assim, Deus pode ser Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus. Grudem em sua Teologia apresenta algumas razões necessárias para que Jesus fosse humano:
Para possibilitar uma obediência representativa, para ser um sacrifício substitutivo, para ser o Único Mediador ente Deus e os homens, para cumprir o propósito original do homem de dominar a criação, para ser nosso exemplo e padrão na vida, para ser o padrão de nosso corpo redimido, para compadecer-se como sumo sacerdote

Cristo como Representante dos eleitos de Deus, tinha que ter estas características, que Gruden citou.

Jesus e o Reino de Deus – Ato Pericoretico de Deus com o seu Povo

O termo Reino de Deus não é algo desconhecido das Escrituras; a sua idéia está presente tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. A Bíblia de Estudo Genebra traz uma nota teológica sobre o tema:
No Antigo Testamento, Deus declarou que exerceria a sua soberania (Dn 4. 34-35) governando a vida e circunstâncias do povo,a través de seu rei escolhido, o Messias davídico (Is 9. 6-7), na idade áurea da benção. Esse Reino veio com Jesus e é conhecido onde quer que o senhorio de Cristo seja reconhecido. Jesus está entronizado no céu como soberano sobe todas as coisas (Mt 28. 18; Cl 1.13), Rei dos reis e Senhor dos Senhores (Ap. 17.14; 19.16). A idade da benção é uma era de salvação do pecado e de comunhão com Deus, que leva a um futuro estado de completa alegria, num universo reconstituído. Esse Reino está presente em seus começos, porém a sua plenitude será no futuro; em certo sentido, já está aqui, mas, num sentido mais pleno, ainda virá (Lc 11.20; 16.16; 17.21; 22.16; 18. 29-30)

O que podemos observar então é certa tensão entre o já e o ainda não. O reino já tem seus aspectos em nossas vidas, podemos até experimentar os aspectos da justiça, verdade, bondade em algumas de nossas relações em determinados momentos, mas já em outros não vemos estes aspectos. Na nossa própria vida existe esta dicotomia do já e ainda não. Somos regenerados, mas em algumas circunstâncias nos comportamos de forma contrária a essa nova natureza, e isto é um fato na vida de qualquer cristão. Isto reflete a tensão vivenciada por todo cristão. Como foi observada na nota teológica, a idéia do Reino não era nenhuma novidade, Jesus como ato Pericorético da Santíssima Trindade tinha vindo com um propósito bem definido.
Jesus em seu ministério evidenciou algumas marcas bem visíveis: Pregação do Evangelho, “a chegada do reino de Deus”, exorcismo e milagres. Jesus anuncia as boas novas, estas boas novas João o “Batista” já vinha pregando e João identificava em Jesus o cumprimento de sua missão. Quando João foi preso, mandou seus discípulos perguntar a Jesus se Ele era o Messias, Jesus deu a seguinte resposta: E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado e evangelho (Mt. 11,4-5)
Qual a compreensão que o judeu tinha de Reino de Deus? Os salmos descrevem bem qual a concepção da extensão do reino de Deus. “Ao Senhor pertencem a terra e tudo o que nela contém o mundo e os que nele habitam” (Salmo 24.1) É importante compreendermos isto, para podermos compreender o significado das palavras de Jesus.
Desde a queda o pecado está como um parasita no jardim, e conseqüentemente a vontade preceptiva de Deus é quebrada, óbvio que tudo que acontece está de acordo com a sua vontade decretiva; não há contradição entre estas duas vontades, só que cada uma é explicação de duas circunstâncias de atuação da vontade de Deus. Heber explica isto da seguinte forma:
Vontade Decretiva: A expressão “vontade decretiva” é aquela por meio da qual Deus ordena ou decreta tudo aq uilo que decide que tem de acontecer, seja por meio da sua agência direta, ou através da agência irrestrita das suas criaturas racionais.
Vontade Preceptiva: (Que diz respeito aos preceitos) é a regra de vida que Deus tem apontado para suas criaturas morais trilharem, indicando os deveres que elas têm que cumprir, ou que Ele impõe sobre elas. Essa vontade está revelada na lei e no evangelho. É a norma de conduta estabelecida por Deus para todas as suas criaturas morais, sejam elas crentes ou não.

Temos que definir isto, pois quando Jesus fala que o reino de Deus é chegado ente vós, Ele se refere a um sentido. A própria concepção de Basile,ia to/u Qeou/ é duplo, existe um sentido de que o reino já chegou e outro que ele é futuro, é a famosa tensão do já e ainda não.
Joaquim Jeremias falando sobre a vinda do reino de Deus diz o seguinte:
Sob esse conceito é que os três primeiros evangelistas resumem a sua mensagem: Marcos no sumário colocando no início (Mc 1.15); Mateus e Lucas nas expressões khru,ssein to. Eu.agge.lion th/j basilei.j (anunciar o evangelho do reino) Mt 4.23; 9.35 e eu.aggelizestai th/n basileian ( anunciar a boa nova do reino) Lc. 4.43; 8.1, cf. 9.2,60. Vê que estas formulações de fato representam o tema central da pregação de Jesus, pela freqüência com que ocorre Basili,a nos sinóticos de Jesus, fato que está em forte contraste com o número relativamente pequeno de exemplos no judaísmo contemporâneo e no resto do Novo Testamento

Jesus centraliza sua mensagem na proclamação da chegada do reino, Mas a terra já não é do Senhor e tudo que ela contém? De que Reino Jesus está falando? Creio que o verso 10 do capitulo 6 de Mateus nos dá uma orientação: “Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”. De que vontade o texto está se referindo? Vontade Decretiva? Creio que não, pois esta já é feita, Creio que o texto se refere à vontade Preceptiva. E uma das provas para este raciocínio são os exorcismos. Satanás é o maior expoente da rebelião contra a Vontade Preceptiva de Deus. No texto de Mateus 12.28-29 nos é dito: “Se, porém expulso demônios pelo espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós. Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo E, então, lhe saqueará á casa”
Joaquim Jeremias comentando diz o seguinte:
Essas vitórias sobre o poder do mal não são apenas irrupções isoladas no reino de Satã. Significam mais. São manifestações da aurora do tempo salvífico e do começo da aniquilação de Satã (cf. Mc. 1.24: a,pole.sai [destruir]. É o que afirma Lc 11.20: ei, de. E.n daktu,lw (Mt 12.28: pneumati) Qeou/ e,kba,llw ta, daimo,nia a,.ra e,.fqasen ef u.mas h, basilei,a to/u Qeou/ [se com o dedo (Mt 12.28: espírito) de Deus expulso os demônios, então veio sobre vós o reinado de Deus] Cada expulsão de um espírito mau operada por Jesus significa uma antecipação da hora em que Satã será visivelmente dominado. As vitórias sobre os seus instrumentos são prolepses do éscharton

Quanto aos milagres, para podermos entender o significado que estes atos miraculosos tinham sobre as pessoas, é necessário entendermos qual o contexto social destas pessoas. Nolan nos trás as seguintes informações:
Existiam médicos naquele tempo. Mas eram poucos, e havia épocas em que não havia nenhum; seus conhecimentos de medicina eram muito limitados, e os pobres só raramente podiam se dar o luxo de consultá-los.

Jesus provoca um impacto absurdo nesta sociedade, de exorcistas profissionais, e curandeiros. Nolan diz que havia homens santos e dá como exemplo um tal de “Hanina Bem Dosa, que podia fazer chover ou realizar uma cura por meio de simples e espontânea prece a Deus”. Jesus era diferente! Nolan comenta a respeito de Jesus e diz o seguinte:
Havia, certamente, uma preocupação espontânea em estabelecer contato físico com as pessoas doentes (por ex. Mc. 1,31.41;6,56;8,22-25). Ele as tocava, tomava-as pela mão, ou colocava sua mão sobre elas. Mas jamais fez qualquer uso de fórmulas ritualísticas, encantamentos ou invocações de nomes

Jesus tinha compaixão por estas pessoas, e as ajudava. Nolan comenta o fato de Jesus ter compaixão e diz o seguinte:
A palavra “compaixão” é fraca demais para exprimir a emoção que movia Jesus. O verbo grego splagchnizomai, usado em todos esses textos , é derivado do substantivo splagchnon, que significa intestinos, vísceras, entranhas, ou coração, ou seja, as partes internas das quais parecem surgir às emoções fortes. O verbo grego, portanto, significa movimento ou impulso que brota das próprias entranhas da pessoa, uma reação das tripas. È por isso que os tradutores precisam lançar mão de expressões como “ele sentiu piedade”, ou “seu coração se comoveu com eles”. Mas nem mesmo essas expressões conseguem captar o profundo sabor físico e emocional da palavra grega para compaixão

Estes três aspectos do ministério de Jesus apontavam que o Reino tinha chegado, mas a grande questão é: Chegou á sua totalidade?
Os judeus não entenderam isto. Eles esperavam que o Messias em cumprimento da profecia de Daniel 7 viesse e destruísse os ímpios e estabelecesse o reino a Israel, Ladd sobre este assunto diz:
De fato, o judaísmo apocalíptico perdeu o sentido da atuação de Deus no presente histórico. Nesse ponto, o apocaliptismo havia se tornado pessimista – não com referência ao ato final de Deus em estabelecer seu Reino, mas com referência à atuação de Deus na história presente para salvar e abençoar o seu povo. O judaísmo apocalíptico demonstrava um certo desespero com relação à história, pois entendia que esta estava entregue as poderes malignos.


Não é difícil perceber o choque que eles tiveram, esperavam que Jesus pregasse rebeldia ao Império Romano e Jesus manda pagar impostos. Existem duas parábolas que Jesus deu que descrevem o desenvolvimento do reino: A Semente de Mostarda e o fermento. Ladd falando a respeito da parábola da grão da mostarda disse: “ A parábola da semente de mostarda ilustra a verdade de que o reino, o qual um dia será uma grande árvore, já se encontra presente no mundo de forma frágil e insignificante” Já a respeito do fermento, Ladd disse: “A parábola do fermento incorpora a mesma verdade básica da encontrada na parábola da mostarda: Que o reino de Deus, que um dia dominará sobre toda a terra, penetrou no mundo de um modo que é difícil percepção”
Esta influência do reino tem sido percebida durante as eras, é verdade que há tempos que a percepção desta influência é maior. E uma destas percepções mais sensíveis, são as influências nas vidas das pessoas. É uma benção quando uma cidade, estado, país é governado por homens comprometidos com os ideais do Reino, quando os recursos são aplicados na saúde, diminuindo a dor do povo, quando os recursos são aplicados em educação, alimentação. De fato é uma benção de Deus, e é sobre isto que iremos discorrer no próximo tópico.

Governo- Ato Pericoretico de Deus na convivência dos Homens em Sociedade

Como Deus interfere e se manifesta na vida do homem comum?
Existe alguma atuação graciosa de Deus em preservar a governabilidade ente as criaturas?
Claro que sim! Deus se manifesta através da política. Faz-se necessário definirmos, o que vem a ser política.
É de derivação grega a palavra “política”, que em seu sentido original significava “Politikos” que esta relacionada à cidade, porém ao conceito de polis que é mais abrangente do que cidade, entre os séculos 8 e 6 ac. surgiram na Grécia as “polis”, cidades-estado, estas eram quase que como países atuais, Esparta e Atenas são as mais famosas, inicialmente a palavra política fazia referência a tudo o que é urbano, civil, público, este significado expandiu-se com a obra política de Aristóteles (384-322 ac.), onde passou a designar-se política como a arte ou ciência do governo, durante muito tempo passou a designar os estudos dedicados a atividade humana que de alguma forma se relacionam ao governo, porém na atualidade representa as atividades práticas relacionadas ao exercício do poder do estado; sendo assim está intimamente relacionada o conceito de política ao conceito de poder, segundo Bertrand Russerll (1872-1970), filósofo britânico “conjunto dos meios que permite alcançar os fins desejados”. O domínio da natureza pelo homem seria um desses meios o outro é o domínio do homem sobre o próprio homem, o poder político é apenas uma das formas de poder do homem sobre o homem, existe ainda o poder econômico, o ideológico. No poder político é possível valer-se da força como meio para exercer a vontade diante disto este pode ser considerado o poder supremo, para tanto o poder político conta com o apoio da sociedade, onde por intermédio do estado se exercita as punições quando estas são necessárias, ainda pode se destacar no poder político a universalidade e a inclusividade; o poder político possui limites, porém estes variam de acordo com o tipo de Estado, a política tem como objetivo a ordem pública e a defesa do território nacional e o bem social da população, este assunto mesmo não estando explícito nas conversas diárias é fundamental a vida de todos, pois através da política se constrói a vida da população, não podemos ingenuamente nos abster, cabe a população a discussão e pressão dos governantes.

Hoje em dia, a concepção do domínio é a que mais nos parece comum. O homem tem inclinação para o domínio, isto em si, não é mal, pois foi o próprio Deus que colocou isto no homem, isto faz parte do mandato cultural, o problema é quando este domínio é opressor. Nos dias de Jesus a situação política era geradora de injustiças, exemplo disto é o que nos é dito a respeito de Herodes:
Ele não hesita tampouco em instituir jogos quadrienais em honra de Augusto, em Cesareia e até mesmo em Jerusalém. Rodeia-se de eruditos formados nas letras gregas, (...) Para satisfazer aos judeus, incrementa a reconstrução do templo e o faz embelezar; por esta ocasião, teve de mandar ensinar o ofício de pedreiro a mil levitas, para evitar que simples operários profanassem os locais reservados aos sacerdotes

Eis um exemplo de um governador ímpio. A política é uma benção de Deus, é o meio ordenado para que o estado seja administrado. Então por que esta benção em muitos lugares não é experimentada pelas pessoas? O problema não é com o fato de termos homens governando, mas sim, com o tipo de homens que estão no poder. Deus poderia ter criado os homens separados, não dispostos para viver em sociedade, mas não foi isto que Ele fez, sendo assim, a política faz parte de seu plano para o homem, o relacionamento que existe de amor e perfeição na Santíssima Trindade deve influenciar a política, até porque o senso de política está presente em Deus, o Senhor governa todas as coisas, estabeleceu leis, os céus e toda a terra lhe pertencem, sendo assim, Ele é administrador.
Com a entrada do pecado no mundo, foram criados alguns mecanismos para que a vida humana tivesse condição de existência, e um desses mecanismos foi o magistrado, sobre isto Kuper diz: “Pois, de fato, sem pecado não teria havido magistrado nem ordem do estado; mas a vida política em sua inteireza teria se desenvolvido segundo um modelo patriarcal de vida” Não haveria cadeia, nem polícia, nem forças armadas, nada disso teria sentido no mundo onde não houvesse pecado. O próprio Deus como Rei e administrador tomou uma atitude quando o pecado chegou a níveis extremados: “Destruiu tudo”. Poupando somente Noé e sua família e pares de animas com o fim de repovoar novamente a terra. Mas quando Noé saiu da arca, (Gn 9 1-17) Deus tomou algumas decisões administrativas para sua criação: Estabeleceu uma aliança com Noé e seus filhos (verso 9). Interessante observar a ideia do cabeça da casa, não foi estabelecido aliança com a mulher, pois o cabeça da casa e conseqüentemente da sociedade é o homem. Como a família é célula mater da sociedade, o princípio de responsabilidade segue para outras instituições maiores; talvez seja por isso, que não vemos aliança feita com mulheres, como representantes de um povo na Bíblia.
Deus estabelece a sua aliança com os seres viventes que estão conosco, ou seja, os animais em geral (verso 10). Interessante observar isto: Na aliança o homem não está desassociado do restante da criação. E isto diz muito coisa, o homem está ligado para sempre a criação. Então temos aqui um princípio para uma consciência ecológica. Veja a questão de Romanos 8. 19-23. A criação geme. Ela foi amaldiçoada por causa do pecado do homem. Na aliança Noética, Deus fala que faz aliança com todos os seres viventes, e esta aliança foi feita para garantir a não destruição da criação com um dilúvio. O texto de Romanos, diz: Que ela geme. Por que ela geme? A visão que se tem é que a salvação do homem está desassociada da terra, ou seja, vamos pra um céu, que nos é um grande mistério. Mas se fossemos para o céu, por que a criação geme e aguarda, se ela vai ser destruída? Isto não tem sentido. Ela vai ser libertada da escravidão para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Que gloria será esta? De servir de morada para os santos, ou seja, à volta para o Éden. Nosso parque das Delicias!
Deus colocou como sinal no céu o arco-íris. Ele é o sinal da aliança. Toda vez que chove e aparece o arco-íris, os crentes deveriam se lembrar desta aliança, e se lembrar também que esta aliança prenuncia que seremos restabelecidos um dia, tanto nós quanto a criação.
A Política é algo que Deus colocou no seio de sua criação, Ele criou seres racionais para governar a criação, seres estes que são os vice-regentes de sua criação, sendo assim, o homem, tanto em instâncias menores como seu lar, quantos em instâncias maiores com uma nação, o homem é chamado para governar e dirigir. Surgi uma questão: Todo mundo pode ser político? Pode ser administrador de pessoas? A Confissão de Fé de Westminster co cap. XXIII Seção II, respondendo isto diz:
Aos cristãos é licito aceitar e exercer o ofício de magistrado, quando para ele são chamados; na administração da mesmo, como devem especialmente manter a piedade, a justiça e a paz, segundo as leis justas de cada comunidade, eles, sob a dispensação do Novo Testamento, e para esse fim, podem licitamente fazer guerra, havendo ocasiões justas e necessárias

A política é vocação, o problema é quando ímpios não vocacionados ao governo querem governar a criação de Deus, da mesma forma que é um desastre um ímpio administrando a Igreja; também é um desastre ímpios não vocacionados administrando cidades. Este foco da política como vocação não existe nas mentes de muita gente, então não se tem compromisso quando se vota até mesmo crentes votam sem seriedade, depois que Deus traz juízo através de maus governantes, as pessoas ficam sem entender os motivos disto acontecer e reclamam.
Governantes que professam a fé têm como função primordial levar nações ao reconhecimento da soberania de Deus e que elas existem com o propósito de prestar honras e louvores a Deus. Kuper tem a seguinte opinião:
Elas existem por Ele e são sua propriedade. E por isso todas estas nações, e nelas a humanidade, devem existir para sua glória e conseqüentemente segundo suas ordenanças, a fim de que sua sabedoria divina possa brilhar publicamente em sue bem-estar, quando elas andam segundo suas ordenanças

Tudo deve redundar em glória para Deus; a criação não existe independente de Deus, porém os homens anseiam por isso: Matar Deus; outros até já disseram que Ele tinha morrido O homem está perdido, nosso mundo está um caos. A Igreja precisa mostrar ao mundo qual o modelo de política correta, por isto, a pericorese é a resposta, qualquer política pública que não leve em conta a justiça, a equidade, o equilíbrio, a ordem, não podem prosperar. Os homens precisam entender que em Deus é que reside à estabilidade política, a administração voltada para a justiça.
A Igreja deve se envolver com a política? Sim, deve!
A Igreja deve dar o norte para que a sociedade tenha um modelo político que espelhe traços da comunhão que há entre as Pessoas da Santíssima Trindade, só pelo simples fato de ser a melhor comunidade que existe. Qualquer forma de governo que gere opressão, não honra a Deus, é uma afronta aos céus. Através da pericorese, precisamos como servos de Deus, questionar nossas posições, preferências e candidatos políticos.
Vejamos um exemplo bem simples: Posso votar ou apoiar um candidato ou partido ou programa de governo que têm por finalidade algum objetivo que desonre a Deus? Ou então que provoque mais exclusão social, sabendo, que meu Deus é contra a injustiça?
Boff tem uma opinião boa sobre isto, ele diz:
A sociedade que pode surgir, na inspiração do modelo Trinitário, deve ser fraterna, igualitária, rica pelo espaço de expressão que concede às diferenças pessoais e grupais. Só uma sociedade de irmãos e de irmã, cujo tecido social seja urdido de participação e comunhão de todos em tudo é que pode reivindicar ser pálida imagem e semelhança da Trindade, o fundamento e o aconchego derradeiro do universo

Será que uma comunidade onde há jogo de interesse, desonestidade, injustiça, soberba, domínio opressivo... esta comunidade respeita a Deus? E se esta comunidade for a nossa igreja? Será que ela respeita a Deus? E se for a minha família? Será que respeita a Deus?
Santo Agostinho viu na criatura humana uma imagem interiorizada da Trindade: A mente, o conhecimento de si mesma e o amor. Agostinho dizia:
Assim como são duas as realidades: a mente e seu amor, quando a mente se ama a si mesma, também são duas; a mente e seu conhecimento, quando ela se conhece a si mesma. Portanto, a mente, o seu amor e o seu conhecimento formam três realidades. Essas três coisas, porém, são uma única unidade. E quando perfeitas, são também iguais.

O que provoca a unidade no caso do homem é o amor que é o vínculo da perfeição; na Santíssima Trindade, além de serem Uma só substância, manifesta em Três subsistências diferentes, a Pericorese Neles é um vinculo de amor.
Uma sociedade quando regida pelos princípios que promovem a unidade, ela vivencia a graça comum de Deus, nos macros relacionamentos, quanto nos individuais.
O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Hoekema em seu livro Criados à Imagem de Deus, fala da estrutura do homem, do seu “aspecto estrutural e funcional”. A queda acabou por completo o sentido estrito funcional do homem, mas o lato estrutural que diz respeito a “sua capacidade de tomar decisões” , este não! Então a capacidade administrativa não se perdeu por completo, é verdade que o pecado atrapalha, mais quando a graça comum de Deus está sobre um governo, ele é justo, equitativo. Historicamente a cristandade, nos países latinos americanos tem ficado do lado dos opressores, desonrando a Deus. A Igreja por necessidade precisa se postar em favor dos excluídos, pelo simples fato que o Seu Deus é a favor dos excluídos. “Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o Senhor; e porei a salvo a quem por isso suspira” Salmo 12.5.
Rev. Jaziel C. Cunha

Um comentário:

Miguel Silva disse...

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Graça e paz de Cristo para todos.
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postado por: miguel silva