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sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Relação entre Pericorese e Política

Há alguma relação ente política e pericorese?
Claro que sim! Faz-se necessário definirmos, o que vem a ser política.
É derivação grega a palavra “política”, que em seu sentido original significava “Politikos” que esta relacionada à cidade, porém ao conceito de polis que é mais abrangente do que cidade, entre os séculos 8 e 6 ac. Surgiram na Grécia as “polis”, cidades-estado, estas eram quase que como países atuais, Esparta e Atenas são as mais famosas, inicialmente a palavra política fazia referencia a tudo o que é urbano, civil, público, este significado expandiu-se com a obra Política de Aristóteles (384-322 ac.), onde passou a designar-se política como a arte ou ciência do governo, durante muito tempo passou a designar os estudos dedicados a atividade humana que de alguma forma se relacionam ao governo, porém em na atualidade representa as atividades praticas relacionadas ao exercício do poder do estado; sendo assim esta intimamente relacionada o conceito de política ao conceito de poder, segundo Bertrand Russerll (1872-1970), filósofo britânico “conjunto dos meios que permite alcançar os fins desejados”. O domínio da natureza pelo homem seria um desses meios o outro é o domínio do homem sobre o próprio homem, o poder político é apenas uma das formas de poder do homem sobre o homem, existe ainda o poder econômico, o ideológico. No poder político é possível valer-se da força como meio para exercer a vontade diante disto este pode ser considerado o poder supremo, para tanto o poder político conta com o apoio da sociedade, onde por intermédio do estado se exercita as punições quando estas são necessárias, ainda pode se destacar no poder político a universalidade e a inclusividade; o poder político possui limites, porém estes variam de acordo com o tipo de Estado, a política tem como objetivo a ordem pública e a defesa do território nacional e o bem social da população, este assunto mesmo não estando explicito nas conversas diárias é fundamental a vida de todos, pois através da política se constrói a vida da população, não podemos ingenuamente nos abster, cabe a população a discussão e pressão dos governantes.[1]

Hoje em dia, a concepção do domínio é a que mais nos parece comum. O homem tem inclinação para o domínio, isto em si, não é mal, pois foi o próprio Deus que colocou isto no homem, isto faz parte do mandato cultural, o problema é quando este domínio é opressor. Nos dias de Jesus a situação política era geradora de injustiças, exemplo disto é o que nos é dito a respeito de Herodes
Ele não hesita tampouco em instituir jogos quadrienais em honra de Augusto, em Cesareia e até mesmo em Jerusalém. Rodeia-se de eruditos formados nas letras gregas, (...) Para satisfazer aos judeus, incrementa a reconstrução do templo e o faz embelezar; por esta ocasião, teve de mandar ensinar o ofício de pedreiro a mil levitas, para evitar que simples operários profanassem os locais reservado aos sacerdotes [2]

Eis um exemplo de um governador ímpio, a política é uma benção de Deus, é o meio ordenado para que o estado seja administrado. O problema poderíamos dizer, não é com o fato de termos homens governando, mas sim, com o tipo de homens que estão no poder. Deus poderia ter criado os homens separados, não dispostos para viver em sociedade, mas não foi isto que Ele fez, sendo assim, a política faz parte de seu plano para o homem, e da mesma forma como a pericorese deve influenciar a sociedade, também deve influenciar a política, até porque o senso de política está presente em Deus, O Senhor governa todas as coisas e estabeleceu leis, Os céus e toda a terra lhe pertencem, sendo assim, Ele é administrador.
Com a entrada do pecado no mundo, foram criados alguns mecanismos para que a vida humana tivesse condição de existência, e um desses mecanismos foi o magistrado, Kyper diz: “Pois, de fato, sem pecado não teria havido magistrado nem ordem do estado; mas a vida política em sua inteireza teria se desenvolvido segundo um modelo patriarcal de vida”[3] Não haveria cadeia, nem policia, nem forças armadas, nada disso teria sentido no mundo onde não houvesse pecado. O próprio Deus como Rei e administrador tomou uma atitude quando o pecado chegou a níveis extremados: Destruiu tudo. Poupando somente Noé e sua família e pares de animas com o fim de povoar novamente a terra. Mas quando Noé saiu da arca (Gn 9 1-17), Deus tomou algumas decisões administrativas para sua criação. Estabelece aliança com Noé e seus filhos, (verso 9). Interessante observar a ideia do cabeça da casa, não foi estabelecido aliança com a mulher, pois o cabeça da casa e conseqüentemente da sociedade é o homem . Como a família é célula mater da sociedade, o princípio de responsabilidade segue para outras instituições maiores, Talvez seja por isso, que não vemos aliança feita com mulheres, como representantes de um povo na Bíblia.
Deus estabelece a sua aliança com os seres viventes que estão conosco, ou seja, os animais em geral (verso 10). Interessante observar isto: Na aliança o homem não está desassociado do restante da criação. E isto diz muito coisa, o homem está ligado para sempre a criação. Veja a questão de Romanos 8. 19-23. “A criação geme”, ela foi amaldiçoada por causa do pecado do homem. Na aliança Noética, Deus fala que faz aliança com todos os seres viventes, e esta aliança era de não destruir a criação com dilúvio. O texto de Romanos, diz que ela geme. Porque ela geme? A visão que se tem é que a salvação do homem está desassociada da terra, ou seja, vamos pra um céu, que nos é um grande mistério. Mas se fossemos para o céu, por que a criação geme e aguarda, se ela vai ser destruída? Isto não tem sentido. Ela vai ser libertada da escravidão para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Que gloria será esta? De servir de morada para os santos, ou seja, à volta para o Éden. Nosso parque das Delicias!
Deus colocou como sinal no céu: o arco-íris. Ele é o sinal. Toda vez que chove e aparece o arco-íris, os crentes deveriam se lembrar desta aliança, e se lembrar também que esta aliança prenuncia que seremos restabelecidos um dia, tanto nós quanto a criação.
A Política é algo que Deus colocou no seio de sua criação, Ele criou seres racionais para governar a criação, seres estes que são os vice-regentes de sua criação, sendo assim, o homem, tanto em estâncias menores como seu lar, quantos em estâncias maiores com uma nação, O homem é chamado para governar, dirigir. Surgi uma questão: Todo mundo pode ser político? Pode ser administrador de pessoas? A Confissão de Fé de Westminster co cap. XXIII Seção II, respondendo isto diz:
Aos cristãos é licito aceitar e exercer o oficio de magistrado, quando para ele são chamados; na administração da mesmo, como devem especialmente manter a piedade, a justiça e a paz, segundo as leis justas de cada comunidade, eles, sob a dispensação do Novo testamento, e para esse fim, podem licitamente fazer guerra, havendo ocasiões justas e necessárias[4]

A política é vocação, o problema é quando ímpios não vocacionados querem governar a criação de Deus, da mesma forma que é um desastre um ímpio administrando a Igreja, também é um desastre ímpios administrando cidades. Este foco da política como vocação não existe nas mentes de muita gente, então não se tem compromisso quando se vota, até mesmo crentes votam sem seriedade, depois que Deus traz juízo através de maus governantes, as pessoas ficam sem entender os motivos disto acontecer e reclamam.
Governantes que professam a fé têm como função primordial levar nações ao reconhecimento da soberania de Deus e que elas existem com o propósito de prestar honras e louvores a Deus. Kuper tem a seguinte opinião:
Elas existem por Ele e são sua propriedade. E por isso todas estas nações, e nelas a humanidade, devem existir para sua glória e conseqüentemente segundo suas ordenanças, a fim de que sua sabedoria divina possa brilhar publicamente em seu bem-estar, quando elas andam segundo suas ordenanças[5]

Tudo deve redundar em glória para Deus, a criação não existe independente de Deus. Porém os homens anseiam por matar Deus, outros até já disseram que Ele tinha morrido.[6] Por isso o homem está perdido e nosso mundo está um caos. A Igreja precisa mostrar ao mundo qual o modelo de política correta. “A pericorese é a resposta”, qualquer política pública que não leve em conta justiça, equidade, equilíbrio, ordem. Não podem prosperar. Os homens precisam entender que em Deus é que reside à estabilidade política e a administração voltada para a justiça.
Igreja tem que relacionar-se com política?
Sim. A Igreja deve dar o norte para que a sociedade tenha um modelo político que espelhe traços da comunhão que há entre as Pessoas da Santíssima Trindade, pois ela é a melhor comunidade que existe. Qualquer forma de governo que gere opressão, não honra a Deus, é uma afronta aos céus. Através da pericorese, precisamos como servos de Deus, questionar nossas posições, preferências e candidatos políticos.
Vejamos um exemplo bem simples: Posso votar, ou apoiar um candidato ou partido ou programa de governo, que tem por finalidade algum objetivo que desonre a Deus? Ou então que provoque mais exclusão social, sabendo, que meu Deus é contra a injustiça?
Boff tem uma opinião boa sobre isto, ele diz:
A sociedade que pode surgir, na inspiração do modelo trinitário, deve ser fraterna, igualitária, rica pelo espaço de expressão que concede às diferenças pessoais e grupais. Só uma sociedade de irmãos e de irmã, cujo tecido social seja urdido de participação e comunhão de todos em tudo é que pode reivindicar ser pálida imagem e semelhança da Trindade, o fundamento e o aconchego derradeiro do universo[7]

Será que uma comunidade onde há jogo de interesse, desonestidade, injustiça, soberba, domínio opressivo respeita a Deus? E se esta comunidade for a nossa igreja? Será que ela respeita a Deus? E se for a minha família? Será que respeita a Deus?
Santo Agostinho viu na criatura humana uma imagem interiorizada da Trindade: A mente, o conhecimento de si mesma e o amor. Agostinho dizia:
Assim como são duas as realidades: a mente e seu amor, quando a mente se ama a si mesma, também são duas; a mente e seu conhecimento, quando ela se conhece a si mesma. Portanto, a mente, o seu amor e o seu conhecimento formam três realidades. Essas três coisas, porém, são uma única unidade. E quando perfeitas, são também iguais.[8]

O homem é criado à imagem e semelhança de Deus, Hoekema em seu livro Criados à Imagem de Deus, fala da estrutura do homem, do seu “aspecto estrutural e funcional.”[9] A queda acabou por completo o sentido estrito funcional do homem, mas o lato estrutural que diz respeito a “sua capacidade de tomar decisões”[10], este não! Então a capacidade administrativa não se perdeu por completo, é verdade que o pecado atrapalha, mais quando a graça comum de Deus está sobre um governo, ele é justo, equitativo. Historicamente a cristandade, nos países latinos americanos tem ficado do lado dos opressores, desonrando a Deus. A Igreja por necessidade precisa se postar em favor dos excluídos, pelo simples fato que o Seu Deus é a favor dos excluídos. “Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o Senhor; e porei a salvo a quem por isso suspira” Salmo 12.5
[1] O que é Política? Disponível em: http://pt.shvoong.com/social-sciences/political-science/1636126-que-%C3%A9-pol%C3%ADtica/ Acesso em: 13 agosto 2008
[2] Saulnier Christiane. ROLLAND Bernard. A Palestina no Tempo de Jesus p.23
[3] KUPER Abraham. Calvinismo, São Paulo-SP Cultura Cristã, 2002 p.87
[4] WESTMINSTER Confissão de Fé Ed. São Paulo-SP OS PURITANOS 1999 p. 399
[5] KUPER Abraham. Calvinismo p. 89
[6] Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do final do séc. XIX (1844-1900) foi quem diagnosticou o niilismo como a “doença do século” e o tomou como eixo temático e problema capital expresso na “morte de Deus”. Para responder o que é o niilismo? Explica: “Falência de uma avaliação das coisas, que dá a impressão de que nenhuma avaliação seja possível”. “Niilismo: falta a meta; falta a resposta ao “por quê?”; o que significa niilismo? – que os valores supremos se desvalorizam”. Visto como um longo processo, o niilismo alcança seu auge na morte de Deus. Que marca o momento de constatação da perda de sentido e validade por parte dos valores superiores da cultura no Ocidente. Representa assim, o fracasso de uma interpretação da existência que por muito tempo auxiliou o homem a suportar a dor. Deus morreu! Deus continua morto! E nós o matamos!! Como nos consolaremos, nós, os assassinos dos assassinos? O que o mundo possui de mais sagrado e possante perdeu seu sangue sob a nossa faca. O que nos limpará deste sangue?... Este evento enorme está a caminho, aproxima-se e não chegou ao ouvido dos homens... É preciso tempo para as ações, mesmo quando foram efetuadas, serem vistas e entendidas. Nietzsche e a morte de Deus. Disponível em: http://www.eticaefilosofia.ufjf.br/8_1_giuliano.html Acesso em: 13 agosto 2008
[7] BOFF Leonardo A Trindade e a Sociedade p. 189
[8] AGOSTINHO Santo A Trindade p. 290
[9] HOEKEMA Anthony. Criados à Imagem de Deus. São Paulo-SP Cultura Cristã 1999 p. 84-88
[10] Ibid. p. 85

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