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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Introdução ao Estudo sobre o Reino de Deus II

No artigo anterior vimos à questão dos elementos do Reino e sua manutenção. Veremos agora a questão do propósito.
Por propósito, compreendemos a finalidade da existência do Reino. Por que Deus criou as coisas? Será que Ele necessitava criar alguma coisa? Será que o relacionamento que as Pessoas da Santíssima Trindade tinham não era suficiente em si mesmo? Será que o seu relacionamento estava comprometido? Será que uma das Pessoas precisava gerar para se auto-afirmar?
A resposta a todas estas perguntas é um sonoro: Não!
A Santíssima Trindade cria por um ato de amor. Esta relação que a Santíssima Trindade tem com a criação se manifesta num ato pericorético .
Na criação Cada Pessoa da Santíssima Trindade está envolvida.
O propósito da criação faz parte de um propósito teleológico, ou seja, um propósito bem definido com um fim em vista. A história caminha para um fim. E para que houvesse história, era necessário haver um palco para que o enredo se realizasse.
Neste palco A Santíssima Trindade manifesta seus propósitos.
Van Gruningem destaca três propósitos: “modelos e leis; maravilhas e mistérios da vida; um lar aconchegante para o ápice da criação com trabalho e descanso”
Por modelos e leis queremos enfatizar toda a sorte de leis e modelos que regem todos os elementos do Reino e toda a vida que existe nestes elementos e que deles dependem. As leis que proporcionam descobertas fantásticas na humanidade, não são leis que foram criadas pelo homem. Mas, são leis pré-estabelecidas pelo próprio Deus. E se o homem tem algum êxito nas descobertas que tanto impressiona, isto é decorrente da sabedoria de Deus em estabelecer estas leis no Reino, garantindo-lhe sua funcionalidade e seu experimento, possibilitando repetição para averiguação da determinada lei. A grandiosidade e sabedoria de Deus residem nisto. Aquilo que em épocas passadas era considerado ficção, hoje é real e palpável. E só foi executada porque os homens, mesmo que não percebam a mão do Criador, seguem os modelos de leis que o Criador estabeleceu. Por eles terem seguidos estas leis, podem ter certeza que os resultados serão atingidos. Aquilo que nós chamamos de milagres, nada mais é, do que a atuação que o Senhor tem sobre estes modelos e leis, onde Ele por ter todo o conhecimento de execução realiza as coisas. Demonstrando controle total sobre tudo. Estes modelos e leis são necessários para que o mandato cultural possa ser desenvolvido.
Além dos modelos e leis estabelecidos pelo Criador, outro propósito é demonstrar maravilhas e mistérios da vida. Este segundo propósito está relacionado de forma muito direta com o primeiro. As maravilhas e mistérios só são manifestos, justamente por existirem modelos e leis que possibilitam o aparecimento destas maravilhas e mistérios. O Senhor gerou uma complexidade de vida animal, vegetal e marinha incrível. Toda esta biodiversidade existe como manifestação das maravilhas da vida. Faz parte do mandato cultural do homem tomar conta e proteger esta diversidade. A destruição desta biodiversidade corresponde a uma completa abdicação e renegação da função do homem como vice-gerente na execução do mandato cultural. As pessoas que contemplam a criação e percebem nela todo o mistério que ela exala.. Sua complexidade. Deveriam exclamar juntamente com as Escrituras: Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Salmo 19.1
O último propósito da criação do Reino seria providenciar um lar aconchegante com trabalho e descanso para o ápice da criação. Neste ponto queria ir um pouco mais além do que foi proposto por Van Gruningem, prefiro pensar que além de ser um lar para o vice-gerente juntamente com sua esposa. O Reino também é um lar para toda a criação animal, vegetal e marinha que o Senhor criou e pôs o homem como guardador delas.
Creio que vendo desta perspectiva, a obrigação do homem fica realçada. O homem não tem o direito de explorar o lar de qualquer forma. Pois não é somente seu lar. E sim de todas as outras formas de vida que o Senhor criou.
Van Gruningem destacou a questão do trabalho e do descanso. O trabalho do homem está relacionado ao mandato cultural
Qual a finalidade do mandato cultural?
O mandato cultural é representado pelo comércio, artes, trabalho, tecnologia, escola, etc.
Sua finalidade é o desenvolvimento, a exploração da terra. Mas, exploração consciente, e a isto, o próprio texto de Gn 2.15 limita. A expressão Hr"(m.v'l.W ( e para ela “ele” governar). Tem um profundo significado, segundo o DIT a raiz básica é a de “exercer grande poder sobre” o DIT também fala de um desdobramento, que para o nosso texto, tem uma aplicação mais especifica, “tomar conta de , guardar. Isso envolve manter, ou cuidar de coisas, tais como um jardim” .
Como posso cuidar do jardim, se destruí-lo?
O Senhor me criou tanto para dominar a criação, mas também perceber que depende dela. Tenho uma relação intima com este palco. Fui formado de um de seus elementos, ou seja, da terra. Alimento-me daquilo que ela me dá e de animais que também dependem dela para viver. Tenho necessidade vital de outro elemento à água. Sem este elemento que faz parte do Reino como poderia viver? Desta forma, quando polui as águas, estou atentando contra minha própria existência e de toda a criação que o Senhor me chamou para proteger.
Outro aspecto importante é a questão do descanso
O homem foi criado no sexto dia, e a primeira coisa que esse homem fez no seu primeiro dia de vida, depois de criado, foi o descanso, e isto tem uma aplicação teológica entre a relação trabalho X descanso. Wolff diz o seguinte:
Por conseguinte, o dia de repouso se destina a lembrar ao ser humano que ele foi posto em um mundo provido abundantemente de tudo que é necessário e de muitas coisas belas. As palavras recordam o primeiro relato da criação (Gn 2. 1-3) o qual descreve, em seu estilo arcaico, que o primeiro dia da vida do se humano foi o grande dia do repouso

Qual o ensinamento disto?
Mostrar ao homem que ele deve depender do Criador, todo trabalho já foi terminado, o trabalho do homem é a manutenção, o cultivo, a guarda. Diga-se de passagem, que o Criador não depende do homem para manutenção de sua obra, pois como o texto de Hebreus nos informa é Jesus o Grande Sustentador de tudo (Hb 1.3). O homem como vice regente da criação, governa a criação de Deus, e faz isto, por um ato de condescendência do Criador, de sorte, que Deus quis ensinar que Ele é provedor de tudo e que o homem precisa descansa Nele.
As Escrituras lembram ao homem esta sua limitação, mesmo falando contra a preguiça em textos como Pv. 6. 6-11; 26. 13-16. Ela de forma antitética também diz que O Senhor dá os seus enquanto dormem Sl 127.2. Então temos duas situações:
a- O Homem deve trabalhar
b- Mas o fruto do trabalho provém do Senhor
Desta forma, estabelecemos a relação entre trabalho e descanso, o trabalho visa à glória de Deus, pois é sua ordem, dada na criação, o descanso também é ordem sua, e também visa a sua glória, pois no descanso, o homem percebe que tudo que ele pode fazer, não terá resultados esperados, se o Senhor não lhe der. Então a graça reside em trabalhar e poder descansar.
Wolff faz o seguinte comentário:
A superanbudância tira o descanso do mesmo modo que o zelo demasiado (...). O sono bom se torna o fator distintivo do ser humano que vive no ritmo das dádivas e dos chamamentos de Javé. No descanso se mostra a arte de viver, isto é, aquela sabedoria cuja peça mestra é o temos de Javé. Ela sabe que a futilidade do esforço baldado dos fanáticos por trabalho foi definitivamente substituído pela graticidade da dádiva de Javé durante o sono.

O Reino manifesta estes propósitos e como vice-gerentes regenerados capazes de cumprir o mandato espiritual temos que ter consciência que a compreensão da relação minha com o Reino de Deus também é culto a Deus.

Referências:
Pericorese trata da comunhão entre as Pessoas da Santíssima Trindade e de um movimento de amor e graça para com toda a criação.
GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação Vol. I. São Paulo-SP: Cultura Cristã, 2006 p 62 e 63
HARRIS, Laird R. JR, Gleason L. Archer. WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo-SP: VIDA NOVA, 2005p. 1587
Id. Ibid., p. 1588
WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo-SP: HAGNOS, 2008. p. 20

Rev. Jaziel C.Cunha
Congregações Presbiterianas Conservadoras de Paulista e Prazeres (Jaboatão dos Guararapes)

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